Educação especial nos Estados Unidos

Hoje, Dia da Pessoa com Deficiência Intelectual e Dia do Educador Especial, aproveito pra compartilhar uma entrevista com minha prima querida Nivea Alvim Freitas, 41, professora e educadora especial que atualmente mora em Lake Worth, Flórida, Estados Unidos. Do lado do meu pai, tenho tias e primas que foram ou são grandes educadoras e de quem eu me orgulho muito.

A Nivea é casada há 15 anos com Hugo Gutierrez, 51, engenheiro colombiano que migrou para os Estados Unidos há 20 anos. E também é mãe do Eduardo, 12, e do Nathan, 6, que já nasceram em solo estadunidense.

Nesta entrevista ela fala um pouco sobre sua experiência como professora e explica como é a formação e a atuação do educador especial nos Estados Unidos.

Espero que gostem!

Nivea dando aula na pré-escola em tempos de pandemia

Nivea dando aula na pré-escola em tempos de pandemia

1. Eu gostaria que você começasse falando um pouco da sua formação e contasse pra gente com o que você está trabalhando hoje em dia.
Estudei letras/inglês na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e me graduei em 2001. Ao mudar para os Estados Unidos, em 2003, comecei o processo de validar minhas credenciais brasileiras de educação com o objetivo de exercer minha profissão aqui. Atualmente sou certificada pelo Departamento de Educação da Flórida na área de ensino fundamental (alfabetização a 6o. ano), em Esol (sigla de Inglês para Falantes de Outras Línguas) (alfabetização a ensino médio) e em educação especial (alfabetização a ensino médio). Também sou Google Certified Educator nível 1. Trabalhei por cinco anos com alfabetização em escola pública e programas de inclusão. Em 2017, ingressei no Programa de Mestrado em Educação, com ênfase em educação especial, da Southeastern University, em Lakeland, na Flórida. Concluí o programa há um ano (em agosto de 2019). Trabalho na pré-escola há três anos, na Lake Worth Christian School. Não estou exercendo o trabalho de educadora especial diretamente no momento, mas auxilio no desenvolvimento de planos de ensino individualizados (PEIs) e de intervenção precoce.

2. O que fez com que você se interessasse pela educação especial?
Ao observar a luta de familiares e pessoas bem próximas do meu convívio no processo de diagnóstico de déficits em aprendizagem, desenvolvimento e fala, o mundo da educação especial começou a chamar minha atenção. A experiência que eu adquiri no meus anos lecionando na escola pública, lidando com programas educacionais individualizados (alunos diagnosticados com déficits em áreas diferentes), também me ajudaram a perceber uma necessidade maior de aprofundar meu conhecimento na área. No pessoal, sempre questionei o “plano de aula tamanho único”, sempre acreditei que cada aluno, independente de diagnóstico ou déficits, aprende diferente.

3. Como é a formação do educador especial nos Estados Unidos?
O educador que deseja trabalhar na área de educação especial nos Estados Unidos primeiramente precisa se certificar na área, através de um exame e seguindo a legislação de cada estado. Conhecimento da legislação, processos e métodos de inclusão e ensino são essenciais. A escola pública americana oferece o processo completo de intervenções, diagnóstico, desenvolvimento de plano individualizado e acomodação/modificação de acordo com a necessidade de cada indivíduo. Obviamente os serviços oferecidos dependem da disponibilidade de verbas de cada estado, escola e região. Mas no geral são de boa qualidade e gratuitos. Professores de educação básica certificados na área trabalham na sala de aula em programas de inclusão ou em sala de recursos. Profissionais mais especializados trabalham coordenando professores de educação especial, oferecendo apoio e suporte, desenvolvendo e coordenando programas educacionais individualizados, avaliando e ajustando objetivos periodicamente. Existe também o psicopedagogo (educational therapist), que se especializa na área e trabalha desenvolvendo um programa de intervenção paralelo, com o objetivo de desenvolver habilidades cognitivas que apoiem o desenvolvimento acadêmico. Este é geralmente um serviço privado, oferecido em escolas particulares ou clínicas privadas.

4. Você sente que o educador especial é um profissional valorizado nos Estados Unidos?
Eu creio que, no geral, o professor é valorizado nos Estados Unidos. Obviamente, há muito que conquistar, mas, pessoalmente, me sinto valorizada no meio que vivo e convivo. O profissional de educação especial é geralmente admirado e respeitado. Muitas vezes há uma expectativa muito alta em relação aos profissionais da área de educação especial, sendo referidos como seres especiais, dotados de muita paciência, bondade e amor.

5. Qual é o maior desafio de se trabalhar com educação especial?
Na minha opinião, há dois desafios principais: o desafio em  elaborar objetivos educacionais individualizados, que sejam realistas e ao mesmo tempo desafiadores; e encontrar o apoio necessário para que esses objetivos se desenvolvam (apoio familiar e da administração escolar).

6. O que é mais recompensador no seu trabalho?
A oportunidade de trazer a experiência do conhecimento acadêmico a todos. É gratificante ver a aprendizagem acontecer, a cura da autoestima ferida e o sorriso no rosto de familiares e alunos.

7. Você acha que as instituições, as crianças e os adolescentes são mais inclusivos hoje em dia? 
Sim, eu acho que há uma conscientização da diversidade e da individualidade do processo da aprendizagem. A legislação tem defendido e garantido a participação desses indivíduos em ambientes escolares. É apenas o  início da jornada da inclusão. Há muito que conquistar ainda.

8. O que ainda precisa mudar para que a inclusão aconteça de forma efetiva?
A inclusão verdadeira. Não apenas incluir o aluno com necessidades especiais no ambiente físico da sala de aula, mas prover o desenvolvimento acadêmico, social, emocional e físico do indivíduo, de acordo com sua necessidade e capacidade. E, para que a inclusão ocorra efetivamente, vários fatores precisam estar alinhados para que o professor possa desempenhar seu papel integralmente. Alguns desses fatores são: comunicação efetiva e envolvimento familiar, suporte diário ao professor (auxiliares e assistentes), apoio da administração escolar e suporte interdisciplinar de profissionais especializados.

9. Que conselho você daria para as pessoas que também desejam trabalhar com educação especial?
Prepare-se, estude e observe profissionais da área. Tenha paciência, a experiência se constrói ao trabalhar com situações reais, nada substitui a experiência.

Da esquerda para a direita: Eduardo, Hugo, Nivea e Nathan

Da esquerda para a direita: Eduardo, Hugo, Nivea e Nathan

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