O diagnóstico não deve estar em primeiro plano, mas pode ser uma ferramenta importante

Exaltado por uns, demonizado por outros… a vida do diagnóstico não tem sido fácil! rs. Afinal, é importante ter um diagnóstico?

Quando a gente fala de saúde mental e também de dificuldades de aprendizagem, na maior parte das vezes, os diagnósticos são hipóteses. Hipóteses fundamentadas em muitos estudos, pesquisas e experiências, mas ainda assim hipóteses. Normalmente existem ferramentas que servem como parâmetro na investigação, mas não existem exames que possam atestar com precisão que uma pessoa tem ou não alguma condição dessa natureza.

Embora todos os profissionais que acompanham uma pessoa possam levantar hipóteses sobre o caso que estão acompanhando, apenas o profissional médico pode fechar um diagnóstico e discutir a necessidade de medicação com o indivíduo e/ou sua família. Ainda assim, o profissional geralmente estará trabalhando em cima de uma hipótese.

Somada a isso, ainda tem a questão de que a maior parte dos casos que se apresentam não são um retrato fiel das descrições contidas nos manuais de apoio. Existem nuances, particularidades e diferenças entre todos os indivíduos. Todos somos únicos, como já sabemos.

A realização de um diagnóstico é uma questão muito delicada, que deve ser tratada com muito respeito, coragem e cuidado. Sabe em ficção, quando existe uma arma poderosa que pode fazer muito bem à humanidade, mas que “em mãos erradas” pode causar muitos danos? rs. É tipo isso.

Existem profissionais que são taxativos, determinam um diagnóstico rapidamente e com muita segurança. O paciente e sua família se agarram àquela hipótese, confiando na segurança demonstrada pelo profissional. Se o diagnóstico e a intervenção estiverem corretos, ótimo! Mas esse é exatamente o tipo de profissional que vai ter fracassos tão marcantes quanto os sucessos, o que pode ser devastador na vida de uma pessoa. Portanto, é necessário ter cautela quando o diagnóstico vem muito rápido.

Existem também os profissionais que têm receio de levantar uma hipótese diagnóstica. Afinal, qualquer hipótese pode se provar equivocada em algum momento e a reação dos pacientes e de suas famílias é sempre uma incógnita. Há quem fique aliviado, por finalmente ter uma resposta para suas dificuldades; há quem faça de tudo pra evitar uma resposta definitiva; e há inclusive quem fique ressentido com o profissional por ter levantado essa possibilidade. As pessoas têm personalidades e histórias de vida diferentes. E ainda existe muito preconceito e desinformação em relação às questões de saúde mental.

Há ainda os profissionais que não compartilham com o paciente e/ou sua família a hipótese com que estão trabalhando, numa espécie de controle e de falta de confiança em relação ao que o paciente pode fazer com aquele diagnóstico. Vai virar um estigma na vida da pessoa? Vai virar uma muleta? Vai assustar?

O fato é que o diagnóstico é um direito do paciente. E o paciente que está disposto a ter uma relação completamente passiva e submissa em relação ao profissional de saúde está cada vez mais raro. Ainda bem! Que os pacientes e suas famílias sejam cada vez mais ativos, questionadores e bem informados!

Portanto o profissional de saúde deve ser responsável e criterioso em sua investigação, mas também deve ser “corajoso” na hora de compartilhar suas hipóteses.

 OK. Mas o que fazer com isso?

A primeira é entender que uma hipótese deve continuar sendo investigada mesmo depois de levantada. Ela vai se confirmar com o tempo? Vai ser descartada? Vai continuar nebulosa? São incertezas com as quais teremos que lidar, profissionais e família.

A segunda é entender que, na vida do indivíduo, uma intervenção adequada é mais importante do que a certeza de um diagnóstico. Independentemente do nome que sua condição tenha ou não, existe um sofrimento, uma necessidade que se impôs na vida do sujeito e o levou a procurar ajuda. E, nessas questões, nós podemos atuar, cada profissional em sua área e, de preferência, alinhados.

Então você pode se perguntar: Se a intervenção é mais importante que o diagnóstico, por que precisamos dar nome aos bois? Porque o diagnóstico é uma ferramenta poderosa, fonte de informação, de pesquisas, de experiências compartilhadas... enfim, é um parâmetro importante para entender as questões de cada indivíduo e dar a ele o suporte de que precisa.

Qualquer pessoa é maior do que o seu diagnóstico. Mas quando falamos sobre isso e compartilhamos informações, ajudamos pessoas a encontrarem respostas, a pararem de se culpar pelos problemas que têm, a não se sentirem sozinhas, a buscarem recursos de apoio. Ajudamos familiares a pararem de achar que depressão é “frescura”. Ajudamos o professor a parar de falar que o aluno com dislexia é “preguiçoso” e “não tem vontade de aprender”. Ajudamos a vizinha a entender que TDAH não é uma “doença inventada pra medicar crianças”. Ou seja, damos ao indivíduo e ao seu entorno a possibilidade de parar de alimentar preconceitos e começar a buscar formas de realmente ajudar.

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