A hora certa de alfabetizar

Qual a idade certa de alfabetizar uma criança? Fotografia de Michal Parzuchowski (Unsplash).

Qual a idade certa de alfabetizar uma criança? Fotografia de Michal Parzuchowski (Unsplash).

Vamos falar de um assunto polêmico! rs.

Qual é a hora certa de alfabetizar uma criança? Este é um tema que gera discussão entre pais e educadores. Há quem diga que quanto antes, melhor. E há quem diga que antes dos 7 anos a única coisa que a criança deve fazer é brincar.

É possível alfabetizar as crianças mais cedo? Sim, é possível. Existem métodos focados na alfabetização precoce e escolas que têm esse objetivo em seus currículos.

Isso dá à criança algum tipo de vantagem sobre as outras? Normalmente não. Ao longo do desenvolvimento, as habilidades de quem aprendeu a ler e a escrever precocemente tendem a se equilibrar com as de quem aprendeu por volta dos 7 anos.

Muita pressão para aprender a ler e escrever mais atrapalha do que ajuda. Fotografia de CDC (Unsplash).

Muita pressão para aprender a ler e escrever mais atrapalha do que ajuda. Fotografia de CDC (Unsplash).

Alfabetizar mais cedo por quê?

Tudo bem se esse é o seu desejo, e é importante escolher uma escola que esteja alinhada com os seus objetivos e valores. Mas também é importante fazer a reflexão: Por que você quer que o seu filho aprenda a ler e a escrever mais cedo? Sim, porque, normalmente, esse esforço acontece mais para suprir demandas e expectativas dos próprios pais, muitas vezes motivados pela angústia de dar ao filho melhores ferramentas pra "vencer" num mundo altamente competitivo ou até mesmo pelo desejo de exibir a criança como um troféu: o pai ou a mãe da criança que aprendeu a ler e a escrever com 4 anos. Uau!

Mas esse é um terreno muito espinhoso e é fácil se perder nele. Ao colocar toda essa expectativa desnecessária sobre a criança, você pode cair nas armadilhas das comparações com outras crianças e na pressão para que ela atenda demandas que ainda não está pronta pra atender. Isso pode gerar angústia, frustração, estresse, sentimentos de baixa autoestima e outro efeito colateral muito indesejado: a aversão e o desinteresse pelo processo de aprendizado. Fora que saber mais não é garantia de sucesso na vida: o desenvolvimento cognitivo deve vir acompanhado de autonomia, equilíbrio emocional e formação moral, para que a criança encontre seu lugar no mundo e possa ser boa para si mesma e para o próximo.

Muitos aprendizados acontecem quando a criança está brincando. Fotografia de Fabian Centeno (Unsplash).

Muitos aprendizados acontecem quando a criança está brincando. Fotografia de Fabian Centeno (Unsplash).

Brincar não é SÓ brincar

Não podemos subestimar o poder das brincadeiras no período pré-alfabetização. Por meio das brincadeiras e das atividades aparentemente despretensiosas da educação infantil, a criança está: desenvolvendo habilidades socioemocionais; adquirindo autoconfiança para aprender; adaptando-se ao ambiente escolar; ampliando e enriquecendo seu repertório; exercitando a criatividade; aprimorando a coordenação motora; e desenvolvendo seu cérebro para alcançar com sucesso todos os aprendizados que virão. Quando a criança está brincando, ela não está SÓ brincando: tem um mundo de aprendizados acontecendo ali.

Para que a alfabetização aconteça da melhor forma, as etapas anteriores do desenvolvimento precisam estar bem assimiladas. A criança precisa: ter coordenação motora adequada; capacidade de formar imagens mentais e gráficas que orientem a escrita; e compreensão do que está lendo e escrevendo. Isso acontece normalmente entre os 6 e 8 anos. Forçar a barra da alfabetização antes disso pode resultar em problemas como: ortografia incompreensível; dificuldade de interpretação de texto; bem como empobrecimento da imaginação e da criatividade. E não subestime a imaginação e a criatividade: elas são imprescindíveis para solucionar problemas no trabalho e ao longo da vida.

Você pode criar um ambiente que favoreça o letramento. Fotografia de Picsea (Unsplash).

Você pode criar um ambiente que favoreça o letramento. Fotografia de Picsea (Unsplash).

O que você pode fazer?

Isso não quer dizer que você deva impedir seu filho de se alfabetizar antes dos 7 anos se ele estiver inclinado a isso. Se a curiosidade vem da própria criança, não há problema algum em estimular e permitir que esse aprendizado aconteça.

E também não quer dizer que, antes dos 7 anos, você não deva fazer nada para estimular a leitura e a escrita. O que nós precisamos entender é que o processo de alfabetização acontece antes da alfabetização propriamente dita. E que nós podemos criar um ambiente que favoreça o letramento: deixando livros à disposição; lendo diferentes tipos de texto para a criança e conversando sobre eles; contando histórias; brincando com os sons e as rimas; cantando; desenhando; e apresentando as letras, sem cobranças ou altas expectativas. Tudo isso deixa o terreno muito mais fértil para o aprendizado que virá a seguir.

Ler não é só identificar letras e sílabas, é processar a informação, dar sentido, é compreender e interpretar o que se lê. E muito disso depende do nosso repertório cultural, que é construído desde que nascemos, pelas nossas vivências, pelo ambiente a que pertencemos e pelos estímulos que recebemos.

Pais e professores devem ser sempre parceiros. Fotografia de Natasha Hall (Unsplash).

Pais e professores devem ser sempre parceiros. Fotografia de Natasha Hall (Unsplash).

Quando eu devo procurar ajuda?

Os professores podem e devem acalmar e orientar os pais em relação a tudo isso. Eles têm experiência de sala de aula, lidam com dezenas de crianças em grupo todos os anos e sabem que a diversidade está presente até mesmo no ritmo e na forma como cada um aprende. Isso é esperado e até desejável, pois ensina a lidar com as diferenças e a ter tolerância com as próprias limitações e com as limitações do outro.

Nesse contexto diverso, caso o professor chame você para conversar, por acreditar que alguma coisa precisa ser investigada no processo de aprendizado do seu filho, leve em consideração a avaliação dele e procure um psicopedagogo para fazer uma análise mais apurada do que está acontecendo.

Também não ignore seus instintos e percepções de mãe e pai. Caso tenha algo angustiando você em relação ao aprendizado do seu filho, converse com o professor, escute a opinião dele e busque um psicopedagogo para acalmar suas preocupações e buscar os estímulos certos para ajudar nesse processo.

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